sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Paciência

 "Pode confiar na mulher que nunca joga fora o xampu quando termina. Porque nunca acha que termina."

São vários potes no box do banheiro, uma mistura de cheiros a maior parte com um restos. Alguns virados para facilitar a saída desesperada da fragrância. Um homem diante daquela situação não teria piedade e colocaria no lixo. É uma sobra simbólica que apenas se mexeria colocando água. Uma massa imóvel, que mal treme. O conteúdo não presta nem para dois enxágues. Mas ela não descarta, pensa que aquilo que não perfuma seus cabelos é ainda capaz de perfumar suas mãos. Permanece com a esperança de que um dia terá uma emergência e ele será útil. Para seus olhos, nada está inteiramente morto, nada está inteiramente esgotado. Contribuem para sua crença as brincadeiras de faz de conta na infância, a sopa de folhas e o bolo de terra. Não depende de muito para seguir vivendo, pede um mínimo de realidade; acostumada a sempre completar por sua conta. Não existe paciência, somente fé. Mais da metade de um marido bom é imaginação feminina.
A mulher que não joga o xampu fora não jogará nenhum homem fora. A menos que ele esteja seco por dentro, acabado, sem nenhuma emoção para oferecer, consumido pelo silêncio. Ela eliminará o sujeito de sua vida após várias tentativas, até se convencer de que ele não rende nem mais espuma, nem mais passado.
O que me leva a concluir que quem pensa demais não faz, não se arrisca, não se entrega. O pré-requisito é criado para impedir que mudanças aconteçam. É necessário ser imaturo para amar. É necessário ser imaturo para engravidar. É necessário ser imaturo para juntar as tralhas e pertences, construir uma casa em comum, e seguir ameaçados pelo humor do próximo.
Merece o amor quem trabalha por ele, quem sofre por ele, quem não quis ser mais inteligente do que sensível, quem é absolutamente idiota para sacudir um pote de xampu já no fim.

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